Nas aulas e gravações dos episódios, crianças aprendem a pensar sobre a realidade, ter autonomia e agir com ética.
Quando as mães ouviram a proposta de um curso de cinema para crianças, ficaram entusiasmadas. Numa reunião na comunidade, o cineasta, educador e escritor Anderson LadoBeco explicou como seria o curso. Feitas as inscrições, duas turmas foram formadas, uma com atividades na segunda-feira à tarde e outra com encontros na sexta-feira de manhã.
A turma da segunda está produzindo episódios para a série "Gangorra". E a de sexta produz a série "Mosaico da PERIFA". As duas séries são publicadas no Canal LadoBeco, criado por Anderson de Lima. Ou melhor, Anderson LadoBeco, como ele mesmo prefere se apresentar, contando porque assumiu esta identidade: "ela se encaixa melhor na minha personalidade hoje em dia".
De acordo com Anderson, o curso tem uma proposta educativa e também transformadora da realidade do próprio local, pois os vídeos são postados no YouTube e geram dinheiro (o YouTube paga por vídeos com grande número de visualizações).
Ou seja, "vai gerar uma ajuda de custos para cada uma das crianças, fazer com que o espaço tenha a estrutura melhorada fisicamente, com pintura, com reforma, com construção de novos espaços, isso a partir do dinheiro que ele mesmo gera contando as histórias daquelas crianças", diz Anderson.
Ele explica que o canal no YouTube traz duas referências no seu próprio nome: mostrar um outro lado dentro da sociedade, que é o lado do beco, e também mostrar o que tem depois do beco.
"Então, o convite que a gente faz é no sentido de trazer as pessoas para visitarem esse beco e conhecerem o outro lado. Conhecendo o outro lado, talvez elas se surpreendam. Mas independentemente de elas se surpreenderem ou não, elas vão viver uma grande aventura".
Mosaico da PERIFA
Embora a palavra "perifa" possa ser entendida como diminutivo de "periferia", ou uma gíria que se refere à periferia, o nome PERIFA dado à produção da turma da segunda-feira é uma composição das letras iniciais das três personagens centrais da série: a Penelope, a Ritinha e a Fabíola.
"O Mosaico da PERIFA se refere a estas três meninas que estão sempre esclarecendo situações que, de longe, parecem ser uma coisa e, de perto, parecem ser outra, assim como o mosaico se revela quando a gente olha em uma parede", destaca Anderson.
Para ele, na sociedade são encontradas muitas vezes essas situações, "em que a gente pensa que funciona de um jeito e, olhando de perto, vê que funciona de outro".
Lembrando que as pessoas têm receio de se aproximarem para ver de perto e que este receio produz os maiores preconceitos com a periferia, Anderson revela mais um resultado do seu trabalho:
"A gente começa a mostrar que aqui na comunidade, que aqui na periferia existe alegria, existe uma construção, existe educação sendo criada e existe principalmente um processo de revolução acontecendo".
Gangorra
A outra turma do Curso de Cinema produz os episódios da série "Gangorra". O cineasta Anderson LadoBeco conta que o projeto fala sobre "uma lógica tanto social quanto vivencial que tem como símbolo a gangorra, mostrando que muitas vezes a gente está por cima e outras vezes a gente está por baixo".
Segundo Anderson, na história, as crianças descobrem que tem uma casa vazia onde morreu um tal de João Mamão. Aí elas entram na casa e resolvem transformar o local em espaço de contraturno escolar. Ou seja, resolvem fazer ali uma escola, só que uma escola autogerida por elas.
Nessa parte, afirma Anderson, as crianças vão chegar à conclusão de que a escola não precisa ter uma diretora, podendo funcionar num sistema consensual, "onde as pessoas se reúnem em assembleia e decidem, problema por problema, como as coisas devem ser feitas".
Quando a turma chegar neste episódio, a ideia do cineasta e educador é trazer "para a prática artística cinematográfica" um outro projeto seu, chamado "Ciranda Autonomia", um projeto de gestão para crianças. Ou seria com as crianças?
Trazendo o fato de que as crianças não têm voz dentro da escola, não têm voz dentro de casa nas tomadas de decisões, não têm voz dentro da igreja, Anderson garante:
"Não é para crianças, é com as crianças. Quando elas estiverem reunidas num espaço autônomo, elas vão conseguir ter voz para, de fato, trazer as ideias que realmente são criativas e inovadoras, porque criança é muito criativa e inovadora, mas muitas vezes não consegue colocar toda essa inovação e criatividade para fora, pois não tem espaços de expressão".
Parceria com o Instituto
Uma das turmas do Curso de Cinema se reúne no espaço da Escolinha de Contraturno, localizada na Comunidade do Morro, sempre nas segundas-feiras à tarde. Tem 11 crianças, mais precisamente 11 e meia, porque tem um participante que frequenta de vez em quando.
A outra turma se encontra, sexta-feira de manhã, no Salão da Anita, para pegar as cadeiras e fazer um círculo embaixo da tenda que fica num terreno da Comunidade Hermelindo Del Rosso.
Anita da Silva, presidente do Instituto, conta que foi difícil a formação das turmas, por causa do grande interesse das famílias e de ter apenas 11 vagas em cada grupo. Assim, algumas crianças já ficaram inscritas para as turmas do ano que vem.
Além de divulgar, conversar com as mães, formar as turmas e providenciar os espaços para a realização do curso, o Instituto acompanha as atividades e fornece o lanche em todos os encontros dos grupos.
Inscreva-se no Canal LadoBeco e assista no YouTube a todos os episódios da:
Série Gangorra
Série Mosaico da PERIFA
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