1ºEncontro do Projeto Pé Terra Capoeira Angola promove a integração de grupos

Evento faz parte da formação de crianças e adolescentes e foi organizado pelo Mestre Caxambu, professor voluntário no Instituto Maria da Graça

Na foto, um homem negro, com calça e camisa branca, joga capoeira com um menina também negra, com cabelo amarrado em coque atrás da cabela e vestida com camiseta branca. Eles estão no centro de uma roda formada por crianças, adolescentes e adultos, todos em pé, onde aparecem dois homens tocando berimbau e outro tocando pandeiro
Veja, abaixo, mais fotos

O encontro, realizado na tarde do último sábado, 20/05, teve a presença de quase 80 pessoas. As apresentações de capoeira e do Grupo Maracatu Nzila Baque Angola aconteceram na rua em frente à sede do Instituto Maria da Graça.

Além do Grupo Obafemi Ajamu, do Mestre Caxambu, que ensina capoeira para crianças e adolescentes no Instituto Maria da Graça, o evento contou com a participação de outros três grupos: Obafemi Ajamu, do Mestre Zumbi, do Jardim João Rossi; Grupo Capoeira Filhos do Palmares, do ContraMestre Cauê, do Jardim Interlagos; e Grupo Maracangalha Capoeira, com o ContraMestre Erê, do Jardim Aeroporto.

De acordo com o Mestre Caxambu, jogar capoeira com pessoas diferentes, de outros grupos, faz parte da formação das crianças e adolescentes, "para poderem se soltar um pouquinho mais". Neste primeiro encontro, os/as alunos/as ainda estavam bem tímidos no começo:

"Mas deu tudo certo no final, eles se soltaram tanto que na hora da apresentação do Maracatu eles começaram a ficar jogando sozinhos, na roda não jogaram, mas jogaram sozinhos do outro lado na rua na hora do Maracatu", conta Caxambu, lembrando que essas apresentações abertas, "fora da academia", são para isso mesmo, para perderem o medo.

As apresentações do 1ºEncontro de Capoeira do Projeto "Pé Terra Capoeira Angola" foram encerradas com a participação especial do Grupo Maracatu Nzila Baque Angola, do bairro Campos Elíseos. O grupo, criado em 2021, tem como regente a batuqueira e brincante de maracatu Camila Lebara (veja fotos abaixo).

Próxima etapa: as cordas
Entre 14 e 18 crianças e adolescentes têm participado das aulas de capoeira duas vezes por semana na Casa de Atividades do Instituto Maria da Graça. Desde que a turma foi formada, alguns alunos/as desistiram e outros novos entraram. Agora, o grupo já consolidado pode seguir para a próxima etapa do aprendizado.
 
Após esse primeiro encontro, que aconteceu depois de quase seis meses de aulas, os alunos e alunas do Jardim Jóquei Clube deverão receber as primeiras cordas. Isso significa, segundo o Mestre Caxambu, que os/as participantes passam a fazer parte do "primeiro ciclo" da capoeira.

A partir daí, vem um treinamento mais avançado: "um novo planejamento de aula, totalmente diferente, um pouquinho mais forçado, uma parte da musicalidade, dos instrumentos que já estou ensaiando com eles, na musicalidade algumas coisas eles já sabem, vou forçar um pouquinho mais", explica Caxambu.

"Boa orientação"
Para as mães das crianças e adolescentes que frequentam as aulas, além de aprenderem a arte da capoeira, seus filhos e filhas ficam protegidos de influências ruins e tendo uma boa educação. 

Claudilene Francisco Silva Santos, mãe da Caline Victória, de 7 anos, conta que a filha começou a vir faz pouco tempo, junto com a prima, mas já está gostando muito. E ela [a mãe] gosta mais ainda, "para não aprender coisas erradas na rua, com maus elementos, vendo as coisas erradas".

Ela diz que adora ver a filha interessada em "praticar" a capoeira, porque também fica recebendo as orientações: "É para tirar as crianças da rua, não deixar eles fazerem coisas erradas, ele [o professor] dá uma boa orientação para as crianças", avalia Claudilene.

Já Francinalva Carneiro Nascimento, mãe do Jorge Henrique, que está frequentando as aulas desde dezembro, diz que tem ficado "até surpresa" com o filho: "ele melhorou, está mais amigo, conversa mais, ele tem se desenvolvido mais, aí vai lá e pesquisa no celular, vai no youtube e pesquisa, e canta as músicas lá, ensaia tudo, tem mais conhecimento, mesmo como hoje que veio para cá".

Quando vem trazer o filho, Francinalva fica muitas vezes acompanhando as aulas. Segundo ela, o desenvolvimento do filho se deve à atenção do professor: "ele é maravilhoso, porque assim para lidar com criança tem que ter uma paciência de ouro, e ele tem. Ele é muito educado, e vem de longe para cá, tirando tempo para crianças que não têm nada a ver com a vida dele".

Contribuição de todos
No evento, após as apresentações de capoeira e do grupo de maracatu, foi oferecido um almoço a todas/os os presentes. "Fizemos dez pacotes de macarrão, e servimos tudo", conta Anita da Silva, presidente do Instituto Maria da Graça, que ficou surpresa com o grande número de pessoas presentes.

A maior parte dos ingredientes do almoço chegaram como contribuição da comunidade, diz Anita: "quase tudo foi ganhado, o arroz, o feijão, todo o macarrão, cinco quilos de salsicha e 14 embalagens de molho de tomate. Todas as pessoas da comunidade têm contribuído muito, principalmente os pais das crianças que estão nas aulas".

Assim, o Instituto, que não conta com qualquer verba ou financiamento, teve que gastar muito pouco: "na verdade, nós gastamos apenas 40 reais, na compra da linguiça para temperar o feijão e dos ingredientes da salada", destaca Anita, lembrando que os grupos que vieram de fora contribuíram com os refrigerantes.

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