Movimento de mulheres, com atuação em todo o país, oferece o curso de PLPs na região do Jóquei Clube em parceria com o Instituto Maria da Graça.
A ideia de realizar o Curso de Promotoras Legais Populares no Jardim Jóquei Clube surgiu num papo, no início do ano, entre Mayra Ribeiro e Anita da Silva, presidente do Instituto Maria da Graça. Sabendo da experiência do Coletivo Juntas com as rodas de conversa na Vila União, Anita falou da necessidade também aqui na região.
"Aí começamos a pensar no curso das PLPs, como uma maneira de emancipação real, pela educação popular, e começamos a pensar também de que forma essas mulheres, para além do curso das PLPs, podem se fortalecer enquanto rede", conta Mayra.
O Juntas é um coletivo feminista, explica Mayra, que surgiu em 2011, na chamada terceira onda do feminismo, "como um coletivo de manifestação de rua". Desde então, participou da organização de vários movimentos de rua, entre eles a "Marcha das vadias", as manifestações do "Pílula fica, Cunha sai", os protestos do "#EleNão", a Campanha "Nós Estamos Juntas" e os atos "Fora Bolsonaro" (veja, abaixo, o que foram estes movimentos).
Na periferia
De acordo com Mayra, aqui em Ribeirão Preto, foi durante a pandemia que o Coletivo Juntas passou a atuar diretamente na periferia: "em parceria com o pessoal do Emancipa e com as Cozinhas Solidárias, a gente começou a campanha "Nós estamos juntas".
Esta campanha de combate à violência contra as mulheres aconteceu, em todo o país, a partir de 2021, quando se verificou um aumento de todos os tipos de violência doméstica. Dentro dessa nova realidade de sofrimento dobrado para inúmeras mulheres, várias ações passaram a ser realizadas.
"Na entrega das cestas básicas, a gente colocava dentro um papelzinho com todos os números onde as mulheres podiam denunciar a violência, aonde elas podiam ir, CRAS, CREAS, só que isso não era suficiente", conta Mayra, lembrando que a mulher podia não ser letrada, ou podia não conseguir pegar e ler o papel porque o marido estava perto.
Então, tomando todos os cuidados contra o coronavirus, começaram os encontros presenciais. "A gente passou a fazer as rodas de conversa lá na Vila União, nós trazíamos diversos temas para essas mulheres, desde a violência até o racismo", diz Mayra.
Ela destaca que o Coletivo Juntas de Ribeirão Preto "tem essa característica de estar nas comunidades, de estar junto com as mulheres". Para a coordenadora, mesmo sendo muito importantes as manifestações de protesto, é preciso "fazer projetos para além da rua, fortalecer estas mulheres de uma outra maneira".
Abertura
O Coletivo Juntas nasceu da necessidade de debater feminismo dentro das universidades, sendo organizado a partir do movimento estudantil universitário e passando a ser nacional em 2012, num congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Mayra explica que as integrantes do Coletivo, quando começaram a participar das manifestações de rua, sentiram a necessidade de sair dos muros das universidades e estarem mais ao lado da população. Assim, os coletivos vão crescendo em cada vez mais cidades, formados ou reforçados por mulheres dos vários setores da sociedade.
Com o tempo, esses coletivos passam a ter muitas mulheres filiadas ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), mas isso não cria uma ligação formal com o partido, como esclarece Mayra:
"Hoje a gente tem mulheres que participam do Juntas e são filiadas ao PSOL e tem outras tantas que não têm vínculo algum com o PSOL, ou seja, o Juntas é um movimento aberto a todas as mulheres".
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PARA SABER MAIS:
Marcha das vadias
Surgiu em abril de 2011, no Canadá, e rapidamente se espalhou por todo o mundo. Foi um protesto contra o argumento de que as mulheres vítimas de estupro são culpadas porque o seu modo de se vertir e seu comportamento provocam o ato violento. As manifestações passaram a acontecer no Brasil também em 2011 e, em 2012, mais de 20 cidades organizaram a primeira "Marcha Nacional das Vadias". Em junho de 2013, com o grito “Vem pra rua contra o machismo”, o movimento cresceu em todo o país.
Pílula fica, Cunha sai
O movimento contrário à aprovação do projeto de lei 5069/13, de autoria do então presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), surgiu como uma campanha no Facebook, em outubro de 2015, quando foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes que fosse levado à votação no plenário, a campanha ganhou as ruas, em grandes manifestações por todo o país. O projeto (que ainda está em tramitação) modifica a Lei de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual, com o objetivo de dificultar o acesso legal ao aborto, mesmo no caso de estupro, além de possibilitar a criminalização do uso da pílula do dia seguinte.
#EleNão
Foram manifestações realizadas em todo o país, em 2018, em repúdio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro, por sua posição machista e misógina expressada inúmeras vezes em discursos públicos. Foi considerado o maior movimento de mulheres da história do Brasil, com o ato de São Paulo, no Largo do Batata, reunindo mais de 100 mil pessoas e o do Rio de Janeiro mais de 25 mil no dia 29 de setembro. Nesse dia, mais de 110 cidades, em 10 estados, tiveram manifestações, além de atos também em cidades de outros países, como Nova York, Lisboa, Paris e Londres.
Campanha "Nós Estamos Juntas"
Com o grande crescimento da violência contra a mulher durante a pandemia, devido ao isolamento social, a campanha lançada pelo Coletivo Juntas teve o objetivo de "fortalecer mulheres, criando redes de solidariedade, apoio e amparo para romper com os ciclos da violência". Além da defesa da aplicação integral da Lei Maria da Penha, do funcionamento 24 horas das delegacias da mulher e do aumento dos recursos públicos para a prevenção à violência de gênero e proteção a mulheres em situação de violência, a campanha também fez a divulgação do manual de combate à violência contra mulher e a multiplicação de ações em conjunto com sindicatos, entidades estudantis e nas comunidades. Saiba mais no site da campanha
https://nosestamosjuntas.coletivojuntas.com.br/
Fora Bolsonaro
A campanha reuniu centrais sindicais, movimentos sociais, 20 partidos políticos, artistas, esportistas, influenciadores, torcidas organizadas, entre outros setores da sociedade. Pedindo o impeachment de Bolsonaro, realizou manifestações em seis diferentes datas, desde 29 de maio até 02 de outubro de 2021. Todos os atos pelo Fora Bolsonaro fizeram a defesa da democracia e protestaram contra a alta dos preços, a miséria e a fome, reivindicando mais vacinas e empregos. A palavra de ordem era "Vacina no braço e comida no prato". No sábado, 02 de outubro, houve manifestações em 94 cidades (incluindo todas as 27 capitais), nos 26 estados e no Distrito Federal.