Educação é prioridade desde o início das lutas, há mais de 20 anos

Mobilização pelo funcionamento da Escola Esplanada da Estação marcou a história das lideranças e das famílias 

Em 2002, mães faziam a limpeza da escola e preparavam merenda, conta Anita

A Escola Estadual Esplanada da Estação começou a funcionar em 2002, no Jardim Iara. Mas, além de ser "escola de lata", ou seja, com as paredes de lata e o teto de zinco, ela foi entregue pelo governo estadual sem merenda e sem profissionais contratados para fazer a faxina e a merenda. 

Anita da Silva, que tinha um filho iniciando a vida escolar na época, lembra que no primeiro dia de aula, a diretora comunicou: "mães, a escola está limpinha, mas nós não temos pessoal da limpeza, não temos merenda, nem merendeiras".

Diante da situação, as mães conversaram e resolveram assumir os trabalhos para que as crianças pudessem ter aulas. Eram cinco classes de manhã e outras cinco à tarde, com funcionamento por conta só das professoras e das mães.

"Nós fizemos um grupo de mães para limpar toda a escola, e cada dia uma mãe ficava para fazer o lanche das crianças, porque daí era lanche, não era comida. A diretora fez os ofícios, carimbou, e eu fui uma das pessoas que levaram em várias empresas vizinhas, pedindo o leite, o pão e a manteiga para a merenda", conta Anita.

E assim foi, durante três meses, sem o governo se manifestar sobre as condições precárias da escola. Como não podiam continuar nesta situação, as mães passaram a fazer uma "vaquinha" para pagar uma senhora.

"Nós pedimos para cada mãe dar um real. Era muito, é como se fossem dez reais hoje, não era toda mãe que tinha. Mas o pessoal concordou em dar. Aí nós contratamos uma senhora para a limpeza, e ela também fazia o lanche", diz Anita, explicando que foi só depois de três meses que o governo entregou a primeira merenda das crianças. 

No quarto mês, segundo Anita, a Secretaria Estadual da Educação contratou uma pessoa para fazer a merenda, a dona Margarida, que passou a fazer o lanche e a limpeza, trabalhando das 7h às 5h da tarde: "Só que a bichinha terminava o dia esbagaçada".

No ano seguinte, o governo mandou uma empresa, com pessoas contratadas: mais duas cozinheiras e mais quatro para a limpeza.

E a escola continuou "de lata"?
"Não. Fomos na secretaria várias vezes para conversar, porque as crianças estavam constantemente doentes, por causa do calor. Eles colocaram ventiladores, mas não supria", destaca Anita.

De acordo com ela, o problema durou dois anos: "no terceiro ano, conseguimos que mudassem algumas paredes, aí eles foram fazendo parede por parede e tirando as de lata". Além disso, as mães conseguiram a cobertura da quadra e também cimentar todo o resto do pátio.

Outra luta: a escola Nairzinha
E a abertura da Escola Nairzinha (E.E. Profª Nair Guilhermina Pinheiro Nogueira) também foi conseguida graças à luta das mães. Foram cinco anos encaminhando pedidos e pressionando a Secretaria Estadual de Educação. 

Por fim, com a escola já pronta, mas ainda fechada, as mães fizeram um levantamento de quantas crianças havia na região, quem precisava estudar, incluindo adolescentes, jovens e adultos. Com os dados, fizeram uma reunião com o promotor (Ministério Público Estadual). 

"Aí a Justiça determinou a abertura e funcionamento da escola", diz Anita, lembrando que, neste período, ela não estava morando no bairro (mudou-se para Londrina, voltando para cá cinco anos depois).

"Quando eu cheguei, participei da reunião com esse promotor, porque a escola já estava pronta há um ano e o governo não entregava. E foi onde se inaugurou a escola, eu não sei porque tanto eles alegavam que não tinha condições de entregar". 

Para Anita, essa nova escola, que oferece os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, foi um dos resultados da experiência anterior de luta pela Escola Esplanada: "foi fruto dessa união, dessa organização anterior, lá do começo".

Mais do que a importância do funcionamento das escolas, Anita destaca a consciência comunitária e o desenvolvimento do sentido de cidadania que veio com as lutas pelo direito à educação.

 "Até hoje os moradores encaram a escola como sua. Isso foi uma das coisas mais boas que aconteceram. As pessoas não encaram que, por exemplo, tem um diretor que toma conta da escola. Não, a escola é do bairro, a escola é nossa".

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