Criada em 2008, atividade funcionou como cooperativa até 2015, mas trabalho solidário entre costureiras continua até hoje.
De volta a Ribeirão, no início de 2008, Anita da Silva formou um grupo de costureiras para pegar lotes maiores de peças e trabalhar em conjunto. Aos poucos, foi conversando com outros grupos de costureiras que trabalhavam da mesma forma, ou seja, como autônomas. Daí surgiu a ideia da cooperativa.
"Quando eu voltei, tinha a necessidade de trabalhar, sustentar minha casa. Aí eu vi num jornal, uma fábrica de camisetas dando camisetas [para costurar], mas só dava se fosse tudo: 12 mil peças. Enfiei a cara e peguei, com três pessoas com quem eu tinha mais amizade. Aí quase enlouquecemos, fomos então ver gente, chamar mais gente".
Como não tinha condições de abrir uma empresa e registrar as colegas como funcionárias, todas trabalhavam como autônomas, apenas dividindo o trabalho, os gastos e o dinheiro recebido: "nós sentamos todo mundo, conversamos, somamos o que dava de dinheiro, como dava para dividir, mas para dividir os gastos também, e cada uma pagava seu INSS".
Neste período, além do trabalho duro para dar conta das encomendas, cada dia tinha que render também algumas horas dedicadas a conhecer e conversar com outros grupos de costureiras sobre a ideia da cooperativa. Isso porque, o registro da cooperativa exigia pelo menos 20 associadas.
"Passamos quase um ano juntando e reunindo esse pessoal para discutir a importância de comprar linha junto, agulha, o preço que era, como se podia economizar se comprasse todo mundo junto, a necessidade de registrar a cooperativa, porque para comprar no atacado tinha de ter um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica)".
A criação da cooperativa foi feita, então, com a participação de quatro grupos, como conta Anita. "Um grupo aqui [Jardim Jóquei Clube], um nos Campos Eliseos, um na RibeSilk e um no Parque Ribeirão. Ao todo, a gente tinha 42 pessoas. Era um grupo grande, e aí nós passamos a fazer reunião a cada seis meses".
Durante oito anos, essa foi a dinâmica da cooperativa, formada por 40 mulheres e dois homens, que trabalhavam no corte das peças. Mas, a partir de 2015, com a crise econômica no país, diz Anita, diminuiu muito o trabalho, "daí decidimos fechar a cooperativa e desativar o CNPJ".
Ajuda do Sebrae
De acordo com Anita, tanto processo de criação da Cooperativa quanto a qualificação para administrar e manter seu funcionamento teve uma grande contribuição do Sebrae.
"Nós precisamos da ajuda do Sebrae, porque ninguém sabia para onde ia, como é que se tocava isso. Aí todo mundo teve que fazer o curso do Sebrae para, primeiro, aprender a empreender. Segundo, grande parte teve que voltar para a escola, eu fui uma que voltou para a escola por esse motivo".
Lembrando que todas estavam acostumadas a "anotarem em seus caderninhos" o que iam fazendo e o preço, para saberem no final do mês tudo que tinham, Anita destaca: "o Sebrae mudou tudo, deu uma assessoria de um ano para ensinar todo mundo, primeiro a logística; segundo, a contabilidade".
Para ela, "isso foi uma coisa assim muito boa", porque todas se qualificaram. Por exemplo, a contabilidade: "não era uma fazer para todo o grupo, todas tinham que entender como fazer a sua contabilidade".
Trabalho cooperativo
A cooperativa fechou, mas a solidariedade e a compreensão da necessidade de todas trabalharem continuam: "o grupo daqui se mantém trabalhando até hoje junto, elas vêm aqui, me ajudam muito, às vezes eu separo um tanto e mando para uma, mando para outra", destaca Anita.
Como o grupo do Jóquei Clube sempre funcionou no Salão da Anita, e é ali que tem o telefone fixo conhecido por todos os clientes antigos, vários pedidos de serviço continuam surgindo.
"Até hoje acabam caindo muitos serviços aqui, eu procuro não perder nenhum, procuro estar sempre repassando para o pessoal", afirma Anita, contando que, no bairro, são 20 costureiras que trabalham agora como autônomas.
Além da fábrica de panos de prato e flanelas para limpeza que continua passando trabalho, ela relata outros dois pedidos surgidos nos últimos dias: um de peças fit para uma academia e outro de uma escola que queria calças em tactel para as crianças. Os dois foram repassados para as costureiras do grupo.
Para Anita, o resultado mais importante da experiência da cooperativa foi o aprendizado da ação coletiva e o amadurecimento conseguido por todas.
"Eu falo assim para as meninas que foi tão bom, tão saudável, que é o que a gente vê pelo coletivo hoje, é esse amadurecimento, um amadurecimento em cima de cada um respeitar a necessidade do outro, uma questão de respeito mútuo mesmo que continua até hoje".
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